Contava-se muito acerca das
viagens que ficaram por fazer. Pisar uma certa terra estrangeira para lhe
encontrar algo de novo, sem saber que na verdade se tratava de uma
familiaridade. Só se vai realmente quando o espirito vai também; a esse
espirito, capaz de experiência estética, pode ir tanto quanto queira a própria
criação. Quanto queira outro homem assumir uma persona explorando-se através dela – fazendo confundir um traço de
personalidade na poesia ou uma experiência universal com a ficção. Talhar nestas
palavras é já um ato heurístico, o primeiro ato heurístico numa viagem que se
quer começar – onde importa mais a nave espacial que nos conduzirá do que a Lua
a onde chegaremos. Onde importa reformular, voltar a ler livros que já foram
lidos e músicas que serão sempre um padrão matemático repetindo-se até à
infinita exaustão.
Uma viagem que parte sempre para um Novo Mundo, explorando
com o espirito a sua própria existência. O afeto que decorre da interrogação da
existência suplanta todos os lugares a que o corpo não pode ir. Só assim nos
pode ser permitido criar algo, quando existe pela vida, onde viajamos, o afeto
pelo tempo presente em que decorre. Só com esse exagero pela vida somos capazes
de nos parecer um pouco mais com o divino e tendermos à criação. Seremos capazes de traçar as paisagens,
inclusive aquelas que ainda não vimos, às quais ainda não chegámos e
provavelmente serão só uma experiência estética única – como são certos modos
num povo estrangeiro. Tudo o resto é uma esperança ténue de que essa memória
não se apague; e que não se apague porque é Arte e pode conter alguma verdade –
como um presságio para um movimento que teime em procurar dentro de certas
gramáticas a possibilidade de lhes sermos rebeldes - e através da Arte agir contra o que está erroneamente instituído.
Neste lugar em especial, uma paisagem com vista para a Literatura, Música, Belas Artes, Cinema e Filosofia da Estética - assim como a difusão de trabalhos académicos que versem sobre as Humanidades e demais Ciências Sociais, capazes de descodificar o corpo da criação artística. A possibilidade
de escrever, traçar um risco ou encadear uma sequência de acordes – que serão
sempre familiares a qualquer coisa. Criações que, uma vez terminadas, são finalmente
uma terra estrangeira; uma paisagem suplente de todos os lugares que já fomos e
ainda estamos para ser.
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