quinta-feira, 3 de março de 2016

A Música de Tiago Sousa




Tiago Sousa, músico e poeta da Terra (porque não se tratam de simples dionísias), com um programa estético extremamente sensível, mas acutilante. Cheio de referências clássicas, principalmente do minimalismo ousado de certos compositores, como é de revelar o exemplo de Erik Satie. Da mesma forma a sua música ganha contornos rebeldes e que pretendem estender-se à quebra da regra clássica, tanto na forma de fazer música como também no pensamento contemporâneo. Pois a sua música é certamente marcada pelo "bom uso" do silêncio, a antítese da música de massas - que invade o ouvido em qualquer lugar, ditando o seu consumo e que está em oposição á Arte que se mantém e prova algo de novo socialmente. Arte que se encontra a lutar contra esta antítese que se serve a perenidade, da "beleza" do mau gosto (Umberto Eco) e pretende formatar levianas mentes para o sentido do "não-pensamento" e por consequência compactuando passivamente com o lado moeda do sistema em que vivemos.

Nas suas próprias palavras “Tocar piano não é uma mera actividade de autoentretenimento. Não é uma ocupação vaga. Afectará as nossas vidas ao ponto da transformação absoluta da existência*".

A música, quando tocada, funciona já como uma ligação ao mundo, pois preenche espaçadamente o silêncio. Nunca é inócua, nem numa sala vazia; e aqui reside a importância de olhar para o presente e avaliar a música que é continuidade e não aquela que se desmancha num "one hit wonder", que dura nos canais de distribuição quase ao ponto de uma cega paixão que morrerá no Verão seguinte. Trata-se da importância de desenlaçar entre o consumo e a fruição da permanência, dotando novos valores àquilo que nos apresentam dizendo tratar-se de "Música"; (música muito em especial por ser o elemento das artes mais fácil de distribuir ou canalizar). Em como pode ser usada para educar e formar espíritos, mas como não é isso que se pretende - e agora só um apontamento: até nas próprias políticas de ensino portuguesas - sem saberem como a harmonia a fazer sentido na cabeça de uma criança, equivale a tornar o seu pensamento mais capaz para a lógica e matemática. Equivale a produzir música que conduzirá a experiências estéticas mais profundas e geradoras de real mudança.

* Trecho de “Lições emancipatórias da técnica pianista”, Tiago Sousa.

Poderão acompanhar aqui a obra de Tiago Sousa

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