segunda-feira, 7 de março de 2016

Estendal de Sonhos

Ouço-me a sonhar através da janela,
a janela onde a minha mãe se sentava a tricotar.
A janela que deita para a noite
os cortinados por tapar
o corpo que se vai despedindo do dia.
Vê o vizinho o corpo desnudo
ganhando curiosidade pela poesia feminina:
A Janela onde se acaba a minha mão
e começa o Inverno
cá dentro - deitada para uma fantasia
que deixou de ser suicida e agora
é só fantasmagoria de um amor esquecido:
pronto para se deitar à rua
como a beata de um cigarro
atirada ao Universo.
O corpo que alguém apanha
para fumar o caramelo, para sorver
o cheiro dos cabelos em flor:
todo o fio que já não tem vida,
mas que ainda é belo e informa
a possibilidade de uma paixão
na cabeça distante de uma janela.

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