terça-feira, 28 de junho de 2016

Nefasto

Corre por mim, dentro de mim, um pensamento atrás do outro
ambos quebrados, cansados da tirania da paz doméstica
sempre atrás de um final espetacular: do pano que desce
na tragédia inventada sem aplausos, sem beijo que desperte
ou braço pousado que me invente outra mulher.
Sou uma dor noutra palavra - a que se escreve na inconsciência
assolando de feio todos os restos de versos;
nem há como pronunciar a ineficácia de toda a poesia:
um desespero rápido na mão tingida a sépia
aperta a coroa de Cristo até que seja picada de rosa
e uma gota deste sangue sobre a boca de quem a declame.
SOU! o espaço em branco que promete a beleza visual
do texto arquitecto de toda a Literatura:
um pequeno deus farto do silêncio das coisas desnecessárias,
do que se escreve e nem é mentira nem verdade nem forma
cujo sumo embriaga o detalhe cego da virtude.
Sou e corro sem fim cheia de um nada que preenche
pensamento atrás de pensamento, palavras-paranóia de gente inexistente
todos dentro de mim, dançando na minha cabeça
um ruído de música que parece a companhia de outrora
tudo o que eu só sou na presença de mim:
pequenos instantes iluminados à sombra do impronunciável
falsas revelações geniais de omnipotências induzidas.

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