sexta-feira, 17 de junho de 2016

Espelhado


A vida prepara o poema no intervalo do tesão
entre o entusiamo e o dissabor acaba-se qualquer Verão,
alguém que se veio e nunca mais voltou
um herói que levava pela mão, fugiu-me como um balão.
Vi-lhe ao largo a textura do monocromático
fingi que era eu de um lugar já desconhecido,
uma gaja sorrindo para o espelho, para o peito
para a curva que faz dançar
mil encantos demoníacos no soçobrar.
Um carinho inofensivo no rosto
parapeito de nenhures de um desgosto.
É essa mão no vidro com que me tocas
um sorriso dentro de Narciso, beijos árduos
na boca partida das miragens.
Foram demasiadas as viagens paradas
um encanto de paisagem: nós dois e as drogas
quase que parecia felicidade a côr do céu
milhões de chapadas à toa em cima do amor
deitado, drufando,
sem dar de si até à manhã seguinte,
acordou enregelado da beleza pedinte
dela e do rosto do tempo que me é
que se veio e nunca mais voltou

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