terça-feira, 3 de maio de 2016

Vazio Penúltimo

Cheira a carne por comodismo, um animal à beira da estrada
pastando um andar compulsivo, carente de cascos por dançar
um estranho na rua pedinte de uma mulher nova
levando o cigarro alheio com que teima mentir
a pista em que se lança e por onde cai vertical
a quem toda a gente pára para ver o preço e desdenhar:
daquela estirpe há muitos e não servem
na boca de um filha mimada, na pele que teme o sol
é odor execrável da rua contígua a um free lunch:
o pedaço sujo que metem à boca sem carinho
desfazendo-se no arrepio falso de um estômago satisfeito
do amor que é necessário, mas alguém tomou como escravo
à estranha necessidade de foder numa cama e com a luz apagada
um chafurdanço num vazio penúltimo, num corpo sem pavio
incensário de mulheres resignadas, debruçadas num altar erecto
todos eles pedindo pelo mesmo: comida quente todos os dias
por causa de um lugar cá dentro, impossível de rechear
de tragar continuamente até serem dias novos.

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