quinta-feira, 19 de maio de 2016

Beijo Ido

Adoece-me a memória da ignorância, dos homens levados pela boca
num corpo inútil de mais palavras. Tinha esta ideia da felicidade,
encontrei-a no banco em que nos dedicámos à ausência, à má poesia,
sem a convicção da eternidade perdurando num sorriso, perturbados
ao ponto da força inerte: o teu corpo tombando no meu universo,
caindo no chão empedrado que emprestei à ideia de humanidade:
dois homens insones caminhando a despropósito de que avenida,
enquanto a noite bastasse pelo menos o vazio encontraria o seu fim.

Enfim seriamos, corpos distensos, boiando no Universo integral
dispersos num abraço sobre a fria atmosfera, embalados pela Laniakea
que nos separa de volta ao lugar onde já estivemos
regidos pela lei que nos aparta e a Lei que nos devolve;

para sempre arquitectura do vago encaixe entre as estrelas,
um mergulho absoluto na escuridão do que já foi
e no tanto em que tardámos escapar aos lugares idos:
tornámo-nos no beijo alheio do mesmo sítio
na indiferença de quem por lá passa.

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