quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Desfiladeiro

Trocar o desespero por idas até à tua alma,
deixa-me dizer-te acerca da eternidade
é qualquer poeta apaixonado por um abismo,
a réstia humana em que somos os dois:
desde o papel à epiderme vai um estreito desfiladeiro
olho para a queda mortal em que te tento encontrar
lá em baixo manadas de búfalos, correndo acelerado
o coração que vai sempre sentir o medo
desistente tentativa de saltar até ao teu abraço -
É verdade, fico como que escrevendo, mas sem anotações
tudo a torto e a direito num pensamento de linhas travessas
tinha o mapa desta metrópole, mas deitei-lhe fogo
do mesmo com que te anseio, num delirio caótico
frenético da cidade incandescente cheia
das divisões vazias em que somos alguns - tantos
no cumulo de querer tanto a ninguém de uma vez só:
insónias inteiras dedicadas ao salto por dar
uma vida que é como se fosse um arranha-céus
onde já nem valentia existe para o âmago final
tudo por consequência do beijo unilateral
a quem tenho por receio de haver alguma vez existido.

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