quarta-feira, 27 de abril de 2016

Inexistência

O que se passou comigo, agora de olhar encostado
incapaz de terminar a tarefa a que te propuseste
cansada do nada que não termina, da espera desiludida
uma mulher não devia servir para mais, ninguém mais compreendeu
o grito que não tenho dignidade de fazer soar
e tantos beijos incapazes na boca para dar.
era contigo que sonhava naqueles dias lentos
e agora estou capaz de suar horas impossíveis
tragar de uma vez só uma espera inexistente.
que espécie de palavra me arrepia, quando a resposta
devíamos ser os dois noite fora insones, eu
e quantos relentos nocturnos à espera de poemas.
tanto que tinha para te contar, recordações quiméricas
das quais duvido e não tenho nem ideia de ter existido,
em que sonho me aconchego e não termino, a medo de mortes
e flores abandonadas às portas de um quarto sem luz.
olho para a lugubridade fingindo ver a felicidade
teço no meu corpo as mãos que ficaram num piano
a realidade parada que deixei num canto, as mãos de tudo
quanto era necessário na música que deixei no repeat
e lembranças da pessoa que não sou e faço por não mostrar
o homem que deixei a meio de um sorriso, num rosto de más-horas
ébrio, torpe, infinito.

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